quinta-feira, 12 de julho de 2012

Manter viva a memória, dando passos ao horizonte...



            A vida de cada um/a de nós é tecida numa longa costura de encontros, pessoas, fatos, acontecimentos, sentimentos, lugares, músicas, silêncios, sonhos, dores, alegrias, estudos, formações, opções, escolhas, atividades, medos e desejos. E poderíamos gastar horas e mais horas escrevendo sobre aquilo que vai tecendo a vida de cada um/a e de todos/as nós.
            Os caminhos da vida vão sendo percorridos ora sozinhos, ora com algumas pessoas e ora em coletivos. Por onde vamos passando, vamos deixando marcas na história do lugar e do mundo, uma história que se faz pessoal e que toma feição de coletivo e de coletividade.
            Em tempos de noite neo-liberal e de uma forçada desmemorização, reforçada pelo sistema e por muitas instituições, está diante de todos/as nós o desafio de manter viva e presente nossa memória pessoal e coletiva.
            A memória nos alimenta, nos dá força, nos renova a esperança e nos dá mais firmeza nos passos a caminho do horizonte. A memória nos torna mais felizes, mais ousados/as, mais sonhadores/as e mais esperançosos/as. Pessoas com memória são pessoas perigosas, incomodantes, inquietantes, críticas, conscientes, cuidantes, sonhadoras e felizes. Talvez, por isso, o sistema neo-liberal e muitas instituições queiram matar nossas memórias pessoais e coletivas.
            Sempre foi importante para a humanidade manter viva sua memória. Mas, igualmente sempre foi um exercício desafiador, perigoso, inquietante, subversivo e ousado. E continua a ser hoje.
            É preciso alimentar a memória. É preciso recuperar a memória. É preciso anunciar aos quatro ventos a memória. É preciso manter viva a memória para seguirmos dando passos rumo ao horizonte.

             

As mãos calejadas e o suor de Jesus

Nazaré – lugar do trabalho que sustenta a vida


“Muitos que o escutavam ficavam admirados e diziam:
Esse homem não é o carpinteiro, filho de Maria?”
Marcos 6, 2ss


      Calçando as sandálias surradas de Jesus, no caminho da revitalização da Pastoral da Juventude na América Latina, vamos percebendo que Nazaré se faz espaço de trabalho, de luta, de busca por sobrevivência. Com Maria responsável por todos os trabalhos diários da casa, como arrumar as refeições, fazer o pão de cada dia, buscar água na fonte; e José na profissão de carpinteiro fazendo casas, telhados, cangas, móveis, prateleiras... Com Jesus que vai aprendendo o oficio de carpinteiro...
         Tradicionalmente uma família judaica era organizada assim. Porém, em Nazaré, um povoado pequeno, não seria raro ver a família de Jesus indo toda para a colheita de sementes, bem como os homens ajudarem em trabalhos domésticos. As possibilidades de subsistência deviam ser criadas em tempos em que a fome assolava de maneira muito profunda.
      Jesus conhece bem a vida sofrida dos trabalhadores e trabalhadoras de Nazaré. Jesus foi um trabalhador de Nazaré... Mais tarde em sua missão irá revelar o cuidado que é preciso ter para arar em linha reta. Conhece também o difícil trabalho dos semeadores que nem sempre colhem o que semeiam. Observa que o grão deve ficar bem enterrado para que possa germinar e dar espigas. Sabe ainda, que é difícil separar o joio do trigo... O trabalho e a luta por sobrevivência que Jesus travou em Nazaré junto de seus pais o marcou de tal forma que essas marcas são retomadas na missão de Jesus e no anúncio do Reino.
        Dar-nos conta do Jovem Jesus trabalhando, nesse caminho da Missão Continental e da Revitalização de nossa atuação e presença como Igreja junto dos/as jovens em seus lugares vitais, é dar-nos conta e refletir sobre o trabalho na vida deles/as. De maneira geral, a participação da juventude nos espaços de trabalho é bastante preocupante. Preocupa pela precariedade. Preocupa pela instabilidade. Preocupa pelo desamparo. Para além disso, há também as possibilidades que aparecem com a inserção no universo do trabalho juvenil. Poderíamos dizer que até mesmo a condição juvenil de buscar o lazer, de adquirir alguns bens, de autonomia e liberdade em relação à família são frutos dessa inserção.
     Contemplar jovens buscando estudar para ter um bom emprego; jovens desempregados; jovens ganhando mal e jovens como mão de obra é contemplarmos Jesus Cristo em cada um/a desses/as jovens.
        Em nossa missão como Igreja junto dos/as jovens é preciso ir as lojas, mercados, empresas, indústrias, bancos, escritórios e no campo e lá encontrarmo-nos com a juventude em sua realidade de trabalho. É preciso formar fileira com a juventude na luta por trabalho digno que seja para a vida e não para a morte.
                                                       

                                           Com as sandálias surradas de Jesus, seguimos com os/as jovens na luta pela vida e por trabalho que seja para a vida!



Pe. Maicon André Malacarne – Assessor da PJ da Diocese de Erechim
Luis Duarte Vieira – Militante da PJ e Vocacionado Jesuíta
Gabriel Jaste – Membro da Coordenação Nacional da PJ pelo Regional Leste 1



Aprender o cuidado com nossa Casa



Desde Nazaré, sentindo o cheiro da Conferência Rio + 20 e
da Cúpula dos povos



No caminho de Nazaré, que vivemos intensamente nesse ano de 2012 em se falar do projeto de revitalização da Pastoral da Juventude da América Latina, nos damos conta do espaço onde Jesus cresceu: “em sabedoria, estatura e graça” (Lucas 2,52). Já escrevemos em um texto anterior sobre a casa de Jesus em Nazaré. É interessante percebermos também o cuidado que Jesus teve, desde seu povoado, com o mundo que o rodeava. Viu os pastores cuidando das ovelhas, viu as mulheres indo buscar água no poço, viu as plantações crescendo, o tempo em que a figueira produz frutos e ao ver e viver isso tudo foi assumindo o mundo como sua casa e como tal viveu o cuidado com este mundo.

Desde Nazaré Jesus foi assumindo o cuidado como parte fundante de sua missão e do que ele viveria no encontro com os outros e com o mundo. Jesus foi estabelecendo uma relação tão intensa que em dado momento de sua missão assume radicalmente o mundo como casa, casa de e para todos/as.

No centro do projeto de vida de Jesus estava a construção do Reino de Deus. O Reino só acontece com fraternidade, amor, solidariedade, respeito, distribuição de renda, justiça, igualdade, defesa da vida, harmonia, respeito com a natureza e desenvolvimento sustentável. Se o Reino era o centro do projeto de vida de Jesus, a Comunidade dos/as Seguidores/as de Jesus, também é chamada a construí-lo. A construção do Reino de Deus passa necessariamente pela defesa de todas as formas de  vida no planeta, pelo desenvolvimento sustentável e territorial, ou seja, o lugar de morada de cada um/a, todos/as com vida digna nos lugares vitais de experiência de vida, a casa, a rua, o bairro, a cidade.
Vivemos um tempo em que se está no auge das discussões o cuidado com o planeta, com a casa que recebemos para morar. Nesse mês de junho, onde celebramos o dia do meio-ambiente, acontece o grande encontro chamado Rio + 20 – Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável. A Rio+20 é assim conhecida porque marca os vinte anos de realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Eco-92) e deverá contribuir para definir a agenda do desenvolvimento sustentável para as próximas décadas. A conferência terá dois temas principais: 1) A economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza e; 2) A estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável. Entendemos a Rio+ 20 como é um lugar da diplomacia, oficialidade, burocracia, com uma grande importância e merece atenção.
Paralelamente à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (UNCSD), a Rio+20, acontece também a Cúpula dos Povos na Rio+20 que é um evento organizado pela sociedade civil onde se pretende discutir a Justiça Social e Ambiental. A ideia é que a Assembleia Permanente dos Povos – o principal fórum político da Cúpula, se organize em torno de três eixos e debata as causas estruturais da atual crise civilizatória, sem fragmentá-la em crises específicas – energética, financeira, ambiental, alimentar. Com isso, espera-se afirmar paradigmas novos e alternativas construídas pelos povos e apontar a agenda política para o próximo período. Os três eixos são: denúncia das causas estruturais das crises, das falsas soluções e das novas formas de reprodução do capital, soluções e novos paradigmas dos povos e estimular organizações e movimentos sociais a articular processos de luta anticapitalista pós-Rio+20. As juventudes de todo o mundo estarão presentes e participando ativamente da Cúpula dos Povos e da Rio+20..       
É na Cúpula dos povos, espaço de organização dos coletivos de movimentos sociais, pastorais e organizações, que queremos reafirmar o lugar da sociedade organizada para a conquista do Bem Viver. Os povos querem dizer sua palavra, reconhecendo a importância da conferência oficial, mas sabemos dos limites dessa “oficialidade” tendo em vista que o atual sistema de produção e consumo, não está à serviço da vida das pessoas, mas do capital.
  Na convergência do diálogo entre os coletivos que estão na defesa da vida, assumimos a opção radical pelos direitos humanos através da defesa e preposição de uma economia à serviço da vida.  Neste sentido os/as jovens irão unir suas vozes a tantas outras no grito contra a economia verde e o processo de mercantilização da natureza. Não acreditamos que a única ação de reciclar e privatizar os recursos naturais, sejam suficientes para o Bem Viver, e sim apoiar, fortalecer e fomentar a intervenção em situações que impedem grande parte da humanidade de viver com dignidade. A profecia do Reino e da Civilização que sonhamos e lutamos.
No caminho da revitalização da PJ devemos dar-nos conta que os/as jovens sempre participaram ativamente das lutas ambientais e sociais. Uma pastoral da juventude encarnada na vida da juventude e fiel ao seguimento de Jesus se une aos/às jovens em suas lutas ambientais e se compromete com a vida do planeta, nossa casa. No III Congresso Latino-Americano de Jovens, realizado na Venezuela em 2010, a Igreja jovem ali presente dizia na mensagem final do Congresso: “Advertimos sobre as ações de algumas empresas nacionais e transnacionais perigosas para a Natureza e para nossos povos, especialmente as ocasionadas por empresas de agroindústria, petroleiras e mineradoras. Cremos que nós, jovens, somos chamados/as a defender a Criação de Deus, assumindo nosso discipulado missionário. Jesus nos impulsiona a transformar nossa realidade como agentes de mudança e sujeitos ativos nos contextos políticos, econômicos, eclesiais e sociais, com consciência crítica e participação cidadã.”
Tendo em vista a participação dos/as jovens na Cúpula dos Povos e reconhecendo que a juventude sempre participou das lutas pela vida no planeta a PJ organizou um subsídio para os grupos de jovens: “Cúpula dos Povos na Rio+20 – Subsídio para os Grupos de Jovens”. Todos/as são chamados/as a estudar e debater a Rio+20 em seus grupos.
Oxalá, neste caminho de revitalização de nossa ação com os/as jovens e nesse tempo de grandes debates sobre a vida do planeta, aprendamos do Jovem de Nazaré o cuidado com a vida do planeta e que ao segui-lo e na opção preferencial pela juventude, possamos doar nossas vidas pela vida da juventude e pela vida do planeta.
Seguimos firmes, nos passos do Jovem de Nazaré, com os/as jovens calçando as sandálias da defesa da vida da juventude e do planeta para a implementação de um projeto de sociedade, a Civilização do Amor.


Alessandra Miranda - Comissão Nacional de Assessores/as da PJ e Assessoria em Direitos Humanos da Cáritas Brasileira
Pe. Maicon André Malacarne – Assessor da PJ da Diocese de Erexim
Luis Duarte Vieira – Militante da PJ e Vocacionado Jesuíta
Gabriel Jaste – Membro da Coordenação Nacional da PJ pelo Regional Leste 1
Paulinha Cervelin Grassi – Membro da coordenação Nacional da PJ pelo Regional Sul 3 e representante da PJ no CONJUVE


Na elaboração deste texto utilizamos informações dos seguintes sites que também podem ser acessados para saber mais da Rio+20 e da Cúpula dos Povos:


domingo, 8 de abril de 2012

Nazaré: lugar da casa de Jesus!

“Minha morada é a casa de Javé por dias sem fim...”.
Salmo 23

Com as sandálias nos pés, firmes no caminho com os/as jovens e no seguimento de Jesus, estamos em Nazaré e neste mês de março, dentro da quaresma – tempo de converter na direção do Reino, queremos conversar sobre a Casa. Sobre a casa de Jesus, sobre a casa dos/as jovens, sobre a casa que somos e que somos chamados/as a ser. Queremos conversar sobre a casa enquanto casa e sobre a casa enquanto corpo.
A casa é um espaço fundamental no processo e na vida de todas as pessoas. Assim foi com Jesus. Assim é com cada um/a de nós. Não obstante, Jesus tem uma preferência por estar na casa das pessoas, ou seja, estar próximo, estar no cotidiano, estar naquilo que é mais simples e profundo da vida. Sua missão o fez assim certamente porque sua experiência em Nazaré fora profundamente em sintonia com o povo da época.
A casa marca fundamentalmente nossa existência. É nela em que se vive muitas experiências que nos marcam pra toda a vida. É nela que estabelecemos relações, é nela que comemos, que sentamos a mesa, que partilhamos a vida, os saberes e as dores.
Como era a casa de Jesus? Será que conseguiríamos imaginar ou contemplar a casa de Maria, José e Jesus? Jesus tinha um quarto? Como era seu quarto? Qual a disposição da casa? Onde eles comiam? Se sentavam no chão? Existia mesa? O que Jesus foi vivendo e aprendendo em sua casa?  
José Pagola nos ajuda a pensar o contexto dizendo que certamente “Jesus viveu numa humilde casa e captou cada detalhe da vida de cada dia. Sabe o melhor lugar para colocar um candeeiro, viu as mulheres varrendo o chão pedregoso com uma folha de palmeira, passou várias horas no pátio da casa e sabe o que as pessoas vivem em seus dramas e alegrias diárias. Viu como sua mãe e vizinhas preparam a massa do pão com um punhado de fermento, observou-as remendando roupa...”.
O monge Marcelo Barros também nos inspira a pensar na casa de Jesus. “As descobertas arqueológicas apontam que as construções eram geralmente feitas de pedra, de tijolos e, às vezes, madeira. As casas mais pobres constavam de um cômodo e tinham apenas um andar. A parte superior das casas era constituída por um terraço, cercado de parapeitos, ao qual era possível subir por uma escada exterior. Durante o dia, eram utilizados para secar as roupas ou os cereais e, nas noites quentes, para descansar ou dormir. As casas mais ricas chegavam a ter dois andares, poço, tanques e, às vezes, piscina. Logo na entrada ficava a sala de visitas e, ao lado desta, o quarto dos hóspedes e dos donos da casa. Mais adiante, as acomodações dos servos, a cozinha, a despensa. No segundo andar, os cômodos dos filhos e, quando não era embaixo, o dos donos da casa. As portas eram estreitas e baixas. Havia poucas janelas, sem vidro”.
No tempo de Jesus, comia-se uma grande refeição ao dia. A base da alimentação era farinha, azeite e vinho. Perto do lago, muito peixe e, nas festas, carne, principalmente de cabra, assada ou cozida na água. Além disso, pão, leite, queijo, manteiga, mel, legumes, lentilha, cebola, alho, pepino, repolho, couve-flor, amêndoas, cominho e coentro. As frutas eram uvas, figos, tâmaras e pêssegos. Todos dizem que Jesus gostava muito de comer.
Pensar na casa de Jesus nos faz pensar também nas nossas casas e nas casas dos/as jovens. O que vivemos em nossas casas? Como nossas casas estão organizadas? O que nossas casas nos ensinam? Onde é o espaço de comer e de partilhar? Pensar na casa de Jesus, nas nossas casas e na casa dos/as jovens noz faz pensar também nos que não tem casa, nas inúmeras pessoas que tem esse direito fundamental e humano negado, nos/as milhares de jovens que não tem casa, nos/as jovens que foram expulsos de suas casas pelo mais diferentes motivos e nos/as milhares de jovens que não tem esse espaço sagrado e fundamental na vida de todos/as.
Revitalizar nossa ação com os/as jovens, como Igreja, será ir e encontrar-nos com os/as jovens em suas “casas” propriamente ditas ou em seus espaços feitos casa, bem como encontrar com os/as jovens que não tem casa. Nos passos de Jesus, que se fez depois um “sem casa” fazendo do mundo sua casa, devemos também nós estar e ser presença evangélica e missionária junto a juventude.
Para além da casa como casa, cada um/a é uma casa como corpo. Nossos corpos são casas. Somos casas de nós mesmos, mas casas também do Divino. Olhar os/as jovens em sua diversidade aceitando-os e assumindo-os como realidade teológica será dar-nos conta de centenas de milhares de casas (cada casa a seu estilo, jeito, expressão, organização, forma, etc...) abrigando vidas, sonhos, utopias, medos, desejos; abrigando Deus. Cada um/a é uma casa de si mesmo (na inteireza do que cada um/a é), mas também casa de Deus.
Os/as jovens durante a juventude vão descobrindo seu corpo, vão descobrindo a casa que é e o que nela cada um/a abriga. Jesus, em Nazaré viveu isso. Os/as jovens também vivem isso. Assumir a opção preferencial pelos/as jovens e revitalizar nossa ação com eles/as será dar-nos conta dessa descoberta. Dar-nos conta disso será romper e negar toda forma de preconceito, discriminação, moralismo e opressão que destroem e machucam “as casas” dos/as jovens.
Como Pastorais da Juventude, no seguimento a Jesus, revitalizando nossa missão com a juventude devemos assumir, crer e viver a juventude como realidade teológica e a diversidade juvenil como expressão das manifestações do Deus da Vida falando-nos, escutando-nos e vivendo na juventude.

          

Desde as casas que somos e que habitamos, assumindo o mundo como nossa grande casa, com as sandálias nos pés, sigamos no compromisso da doação da vida pela vida da juventude, nos passos do Jovem de Nazaré...



Abraços Fraternos,
Pe. Maicon André Malacarne – Assessor da PJ da Diocese de Erechim
Luis Duarte Vieira – Militante da PJ e Vocacionado Jesuíta
Gabriel Jaste – Membro da Coordenação Nacional da PJ pelo Regional Leste 1

Páscoa cristã: caminho e compromisso com a vida


Celebramos e vivemos, “neste dia que o Senhor fez para nós” (Sl 117), o mistério da ressurreição. Não há como viver o mistério pascal se não percorremos com Jesus o caminho que Ele percorreu na consumação da doação de sua vida. Foi este o caminho que percorremos nesta semana e é ele que nos ajuda a compreender e viver o mistério pascal. Por isso, voltemos a algumas trilhas dele.
“Trouxeram então o jumentinho a Jesus, colocaram sobre ele seus mantos, e Jesus montou” (Mc 11 ,7). Em sua entrada em Jerusalém, Jesus elucida mais uma vez seu Reino. Celebrando hoje a páscoa somos convidados a nos comprometer com este Reino.
“Jesus tendo amado os seus, amou-os até o fim” (Jo 13,1). Viver o mistério pascal é deixar-nos inundar por este amor incondicional e permitir que ele transborde em nossas vidas para assim nós também amarmos incondicionalmente a todos/as.
“Compreendeis o que acabo de fazer?” (Jo 13, 12). Celebrar a Páscoa é deixar-nos indagar constantemente por esta pergunta que Jesus fez a seus discípulos naquela ceia derradeira e que faz a cada um de nós hoje.
“Entregou o corpo à morte, sendo contado como um malfeitor; Ele, na verdade, resgatava o pecado de todos e intercedia em favor dos pecadores” (Is 53, 12). Celebrar a ressurreição é compreender a doação da vida pela vida como marca fundante de Jesus. É igualmente assumir a doação da vida até as últimas consequências.
“E, inclinando a cabeça, entregou o espírito” (Jo 19, 30). Testemunhar Jesus morrendo na cruz, na celebração do mistério pascal, é comprometer-nos com tantos irmãos nossos que diariamente morrem pregados em tantas cruzes.
“Não vos assusteis! Vós procurais Jesus de Nazaré, que foi crucificado?
Ele ressuscitou” (Mc 16,6). Celebrar a páscoa é romper com os medos e com a desesperança que nos impedem de ver a vida mesmo em meio à morte, à dor e ao sofrimento.  
“Entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo.
Ele viu, e acreditou” (Jo 20,8).
Celebrar a ressurreição é,  em comunidade, correr ao túmulo para testemunharmos que o Senhor ressuscitou. E no túmulo vazio suplicarmos ao Deus da vida que Ele nos conceda a graça de viver este mistério pascal e que este mistério ressoe em nós de tal modo que em tudo gastemos nossas vidas pela vida.
Uma feliz páscoa na paz do Crucificado ressuscitado!
Amém!

quarta-feira, 28 de março de 2012

Em Nazaré: Cuidar da Vida, da Saúde... Buscando o Bem – Viver


 

“Para que todos tenham vida
e vida em abundância”.
(João 10,10)

“Que a saúde se difunda sobre a terra”.
(Eclesiástico 38,8)

            Como Igreja Jovem, peregrina, nessas terras de nossa Pátria Grande, em busca da fidelidade ao projeto de Jesus e no compromisso com a vida dos/as jovens, estamos a caminho. Marchamos apressadamente e com convicção para Jerusalém! Mas, neste ano queremos nos entranhar a vida cotidiana e na cultura dos/as jovens encarnado-nos na vida cotidiana e cultural do Jovem de Nazaré, Jesus Cristo. Queremos viver e assumir Nazaré no compromisso com os/as jovens.
            Neste mês em que a Igreja Mundial inicia a Quaresma, tempo de conversão na direção do Reino e em que a Igreja do Brasil, como compromisso dessa conversão que devemos viver todos os dias, vive a Campanha da Fraternidade, que neste ano debaterá sobre “Fraternidade e Saúde Pública” no desejo “Que a saúde se difunda sobre a terra” (Eclesiástico 38,8) queremos refletir e conversar com vocês sobre Saúde, sobre cuidado, sobre bem-viver...
            Nazaré é onde Jesus viveu aproximadamente trinta anos. Nazaré é o tempo do crescimento, do amadurecimento, do discernimento, do fazer escolhas, do conviver e crescer como amizade e família, do viver em comunidade, do escutar, meditar e viver a Palavra de Deus... É nessa terra que Jesus cresce, vive, sonha... É nessa terra que Jesus vai discernindo o Projeto do Pai que assume como projeto de vida para si... É nessa terra que Jesus vai sendo cuidado por seu Pai e sua Mãe... É nessa terra que Jesus vai sendo cuidado e vai cuidando... É nessa terra que Jesus vai se comprometendo a viver o cuidado em toda a sua vida...
            Saúde passa necessariamente pelo cuidado consigo mesmo, com os/as outros/as, com o meio ambiente, com o mundo... Saúde passa pelo cuidado com o que se põe à mesa como nos ajudará a refletir a Semana da Cidadania 2012... Saúde passa pelo cuidado do corpo e da mente... Saúde passa pelo cotidiano... Saúde passa pela espiritualidade, pelas relações, pelo meio ambiente... Não há saúde se não há BEM-VIVER...
            O “Bem-Viver” é um antigo paradigma indígena dos povos ancestrais. É um projeto alternativo, uma lógica diferente, que aponta para novas relações de harmonia entre todos. Todos somos relação, somos sociabilidade, somos comunhão, somos amor. Logo, uma vida que aponta para o Bem-Viver deve ser comunitária. Assim, esse paradigma se contrapõe ao capitalismo, ao consumismo...
            Nazaré é marcado por ser o local da vida oculta, da vida cotidiana, da cultura... Viver e assumir Nazaré será também assumir os saberes do povo simples e pobre... Jesus intui e vive isso... Saúde digna, que é direito de todos/as, passa também pelos saberes do povo simples e pobre... 
            Não é engano dizer que Maria cuidou do Menino Jesus, do adolescente Jesus, do Jovem Jesus e também do adulto Jesus se valendo dos saberes de seu povo, dos saberes que apontam cuidado, dos saberes que aponta outro tipo de relação com o meio ambiente, consigo mesmo, com os/as outros, com Deus...
            Não é engano dizer que Jesus era alguém sadio por que sabia cuidar de si, das relações, dos/as outros/as, do que comia, de como agia, da relação com o Pai, da relação com seu corpo... Não é engano dizer que Jesus, com o povo pobre e simples de Nazaré, foi aprendendo, vivendo e cultivando em sua vida os saberes do povo apontando sempre mais o cuidado e a vida...
            No serviço a juventude e na fidelidade com o seguimento devemos recuperar essa dimensão dos saberes, do cuidado, do cuidar da saúde, do cuidar da vida...
            Em Nazaré Jesus vai aprendendo e assumindo o cuidado com a vida a ponto de se dispor a dar sua vida livremente para que todos tenham vida e vida abundante e feliz... Jesus dá sua vida para que o BEM-VIVER se faça... Que nesse caminho, vivendo em Nazaré, estejamos, também nós, dispostos a gastar e dar nossas vidas pelo e no cuidado com a vida da juventude no compromisso do Bem-Viver aos/às jovens e a todos/as....


                                   Seguimos firmes no compromisso com o Bem-Viver com as sandálias nos pés encarnados da vida do povo...


Pe. Maicon André Malacarne – Assessor da PJ da Diocese de Erechim
Luis Duarte Vieira – Militante da PJ e Vocacionado Jesuíta
Gabriel Jaste – Membro da Coordenação Nacional da PJ pelo Regional Leste 1

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

De Nazaré pode sair alguma coisa boa?

Venha e verás!
Jo 1,39

Ainda com o X Encontro Nacional da PJ vibrando em nós e na caminhada da Igreja Jovem do Brasil, Pastoral da Juventude, recebemos neste ano um convite não menos desafiador e provador. O convite, agora, é viver Nazaré. Quanta coisa bonita vivemos e refletimos na mística de Belém. Olhar para a Palavra de Deus e fazer ecoar em nossas vidas é sinal de que é possível continuar a história do Povo de Deus e a (re) criação do mundo através da nossa participação ativa. Nessa perspectiva de revitalizar os caminhos da Pastoral da Juventude da América Latina é que somos impelidos/as a olhar os passos de Jesus e, assim, animar nosso caminho pastoral rumo a Civilização do Amor. Nesse caminho, Nazaré se faz essência, se faz aprendizado, se faz família, se faz trabalho, se faz preparação para a missão... Assim, Nazaré é fundamental naquilo que de verdade deu sentido para a vida de Jesus e, quiçá, possamos refletir e viver esse espaço no nosso dia-a-dia.
Nazaré é parte da essência de Jesus. Não há como segui-lo e entende-lo se não assumimos e vivemos com Jesus o que Ele viveu em Nazaré, nos anos da vida oculta. Há muitas fontes evangélicas que nos remetem à importância de Nazaré no caminho, na vida e nas opções de Jesus reforçando sempre Jesus como Nazareno:  “Aconteceu, naqueles dias, que Jesus veio de Nazaré da Galiléia e foi batizado por João no rio Jordão” (Mc 1, 9); “A isso as multidões respondiam: Este é o profeta Jesus, o de Nazaré da Galiléia” (Mt 21, 11); “Jesus, o filho de José, de Nazaré” (Jo 1,45) e outras tantas citações que chamam Jesus de “o nazareno”.
 José Pagola, na obra Jesus – aproximação história, nos ajuda a desvelar esse povoado com muita clareza. Nazaré é pequena. Segundo fontes, deveria ter entre 200 e 400 habitantes. A maioria das casas eram baixas, de chão batido, com telhados de ramos ou argila, em geral só com um cômodo na qual se alojava e dormia toda a família. Esse foi o ambiente do dia-a-dia de Jesus. De Nazaré quase não se fala na Bíblia.  No decorrer do ano vamos aprofundar alguns aspectos dessa vida, desse cotidiano.
De Nazaré saiu Jesus, o verbo encarnado. Através de Maria e José, dos vizinhos, dos amigos, da relação próxima e fiel com o “Pai”, Jesus foi projetando a vida e a missão que tinha. Frei Carlos Mesters ajuda a refletir sobre o cotidiano do nazareno fazendo perguntas que mechem com a gente: às vezes, da vontade de sair perguntando às pessoas que conheceram Jesus: “contem para nós alguma coisa da vida dele. O que vocês lembram?” Se pudéssemos perguntar a Maria: “dona Maria, conte para nós como foi a vida de seu filho lá em Nazaré?” Ou ao povo de Nazaré: “Como foi a vida de Jesus naqueles anos?” O que nos diriam os meninos que brincavam com Jesus? E os rapazes que estavam sempre com Jesus? E as moças que, quem sabe, gostariam de casar com ele? Muitas perguntas... perguntas de quem viveu uma vida típica do povoado nazareu.
No nosso horizonte de Nazaré está a vida da juventude que é construída no cotidiano. A Pastoral da Juventude tem opção pelos pequenos grupos, naqueles em que a partilha de vida e a construção conjunta acontece de maneira mais fiel para que a vida de cada jovem seja sujeita. Isso é Nazaré. É emancipação. É preparação. É partilha. E, sim, muita coisa boa vem/está na juventude.
Sobre Nazaré queremos nos aventurar neste ano. Sobre os trinta anos de vida oculta de Jesus queremos debruçar-nos nesse caminho de fidelidade ao projeto do Pai.  Por isso convidamos cada um/a vir e ver se de Nazaré pode sair alguma coisa boa. Que Nazaré guie nossos passos na ação com os/as jovens em nosso continente para sermos sempre mais fieis ao sonho de Deus para a humanidade.

Com as sandálias nos pés iniciamos essa jornada.
Rumo aos muitos encontros!

Abraços Fraternos,

Pe. Maicon André Malacarne – Assessor da PJ da Diocese de Erechim
Luis Duarte Vieira – Militante da PJ e Vocacionado Jesuíta
Gabriel Jaste – Membro da Coordenação Nacional da PJ pelo Regional Leste 1

domingo, 29 de janeiro de 2012

Prosa de dois velhos Pjoteiros/as

 Outubro/2010

- Nos vemos no seminário sobre os 100 anos de Puebla, certo?
- Lá olharemos para trás e veremos se esses nossos sonhos para a PJ aconteceram. Será que não precisamos escrevê-los?
- Eles já estão escritos em nossa memória e em nossa Vida, nunca os esqueceremos.
- 2079 será um ano de muita gratidão à Deus....

Depois de termos dito isso, nós (Paula Grassi – 20 anos (RS) e Luis Duarte – 18 anos (GO) membros da Coordenação Nacional da PJ em 2010 e grandes amigos) nos despedimos e seguimos para nossas terras/dioceses/regionais para continuarmos a missão de amarmos os/as Jovens até o fim, defendendo sua Vida...




Dezembro/2079

Aos poucos íamos vendo o rosto dos/as jovens, assessores/as, leigos/as, religiosos/as, padres, bispos e amantes da Juventude que iam partindo de volta às suas casas depois de viverem a Grande Celebração dos 100 anos da opção preferencial da Igreja Latino-Americana pela Juventude... Eram sonhos, rostos, grupos, vidas que se reuniram naquela grande festa...
Sentados um ao lado do outro, num banquinho admirando o Divino no Jovem, seus sorrisos/rostos/cores/gestos, nós dois, chegando aos nossos 90 anos de idade, nos colocamos a falar da vida e a conversar:
- Quais eram os sonhos que desejávamos e ainda desejamos para a PJ, quando nos idos de 2010 éramos jovens e membros da Coordenação Nacional da PJ?
- O primeiro sonho, era continuar com a opção evangélica pelos jovens empobrecidos e excluídos. Desde o nascimento da PJ junto de suas irmãs PJMP, PJR e PJE, essa opção foi norteadora dos trabalhos pastorais. Recorda-te meu velho amigo Luís, das nossas incansáveis conversas sobre essa opção profética? Sempre acreditamos que é nesses jovens que a voz de Deus ecoa... E assim fomos e ainda somos solidários às suas dores, às suas alegrias, aos seus anseios... Mas esse era o primeiro sonho, me diga outro Luís!
- Manter viva a opção evangélica pelos jovens empobrecidos e excluídos é também falar de outro sonho que tínhamos para a PJ: sonhávamos que ela amasse o/a jovem incondicionalmente... Lembra-se do tanto de vezes que nas reuniões de dioceses, regionais e da CN falávamos que a PJ precisava acolher o/a jovem como ele/a é, com suas qualidades e limitações, com suas dores e alegrias, com suas cores e jeitos?
- Claro que lembro! A exemplo do Cristo que Ama e Liberta, amamos o/a Jovem incondicionalmente, mesmo quando excluído/a pela sociedade... Falando n’Ele, surge um dos principais sonhos das PJs: que a juventude possa descobrir, conhecer, ouvir, seguir e comprometer-se com Jesus Cristo. Foi na PJ que me senti chamada por Ele a seguir seus passos e a construir um mundo onde todos/as tenham vida e vida em abundância. Um mundo de justiça e solidariedade. Ele caminha conosco e ilumina nosso caminho.
- A PJ sem dúvida marcou a vida de muitos/as de nós. Como não lembrar das celebrações, atividades, DNJs e vivências que me fizeram, nos fizeram apaixonar por Jesus e nos comprometer a viver a Civilização do Amor no hoje? Lembra-se quando todos/as nós vivemos a preparação do III Congresso Latino Americano de Jovens, nos idos de 2010, onde queríamos “Caminhar com Jesus para dar vida aos nossos povos”?
- Recordo sim! Tinha várias maneiras para participar e você sempre motivando a todos/as para se envolverem! Contar a história de vida e da caminhada pastoral foi uma das maneiras que movimentou muitos/as jovens da base. E a nossa querida delegação brasileira que foi ao III Congresso, voltou cheia de histórias boas e outras nem tão boas pra contar... E nesse mesmo tempo do Congresso tava rolando aqui no Brasil a profética Campanha Nacional Contra a Violência e o Extermínio de Jovens... Que Campanha foi aquela, meu amigo Luis!
- Pois, é minha querida irmã... Como não se lembrar das inúmeras ações, seminários, marchas, estudos, cursos, palestras da Campanha que aconteceram, onde a Igreja Jovem denunciou as brutalidades da sociedade que mata as Juventudes... Sabe minha amiga, fazer memória da Campanha, também me remeteu à memória de Pe. Gisley – mártir da Juventude, que em um dos seus últimos e-mails fazia uma profecia: “Vamos juntos/as gritar, girar o mundo! Chega de Violência e Extermínio de Jovens!” Se lembra dessa frase?
- Infelizmente não conheci Pe. Gisley, mas seu trabalho e desejo com a juventude atravessam a fronteira dos estados, motivando outros padres, religiosas e religiosos para a evangelização transformadora. Com sua perda, seu sangue se espalhou por todo o Brasil... Germinaram sementes de esperança, de coragem... E essa frase em Cirandas de Vida, foi orada e cantada por milhares de jovens em cada cantinho do nosso país. As cirandas e toda a mobilização da Campanha foram sinais de Pastorais realmente comprometidas com a realidade. Falar em Gisley me lembra os momentos de resistência que passamos... Sabe Luís, foram tempos desafiadores e duros, algumas vezes, durante o tempo que estivemos na Coordenação Nacional. Mesmo quando saímos dessa instância, os desafios, as dores para as Pastorais da Juventude continuaram nos regionais, nas dioceses. Sempre pedi muito a Gisley para olhar e iluminar a caminhada das PJs.
- Nestes tempos difíceis que vivemos enquanto CN ou depois que saímos dela eu sempre me lembrava do testamento de Pe. Floris. Ele que foi assessor da PJB nos idos de 1991 e um dos sistematizadores do Processo de Educação na Fé, às vésperas de partir à eternidade, depois de uma vida doada aos pobres e jovens, com seu corpo tomado pelo câncer escreveu: “Se vier a saúde, seguirei servindo aos pobres e jovens. Mas se vier a morte, que ela seja na Cruz de Cristo uma oferta pelos pobres, jovens e pela Pastoral da Juventude do Brasil e da América Latina”.
- Pois é Duarte, tantas pessoas, tantos jovens passaram pelas Pastorais da Juventude deixando suas marcas... E as PJs também deixando marcas em suas vidas. Quem passou por alguma Pastoral da Juventude foi despertado para a pessoa de Jesus Cristo, comprometendo-se com o Reino de Deus, e assim com a vida do homem e da sociedade, com uma vida de comunhão e participação. Quem passou por alguma PJ fez e faz a diferença por onde atua, seja na sua comunidade, em outra pastoral da Igreja, no sacerdócio, nos movimentos sociais e tantos outros espaços. Falando nisso Luís, te contei? Meus filhos e netos também atuaram na PJ. A filha mais velha está ainda de assessora, e os netos ajudam muito na suas comunidades com os grupos de jovens das paróquias. Um deles inclusive está fazendo o CAJO pra se capacitar mais. E agora quem está começando no grupo de base é meu primeiro bisneto. Imagina... Tá iniciando o processo de educação na fé.
- Que notícia mais cheia de vida... Lembro-me, que certa vez me encontrei com um de teus netos em uma formação na CAJU... Eu, um padre já velho, estava lá, falando para aqueles/as jovens sobre Processo de Educação na Fé a partir dos Lugares Bíblicos da Vida de Jesus... Seu neto era um dos que mais participava dos debates! Bem se via que era seu neto... Sabe de uma coisa Paula? Uma das coisas que mais me marcaram na caminhada de PJ foram as amizades e o acompanhamento... Até hoje meu coração arde quando me lembro dos/as inúmeros/as amigos/as, irmãos/ãs que fiz e conheci na pastoral... Recordo-me com imensa gratidão das coisas que vivi junto deles/as seja no tempo das coordenações e assessoria, seja na vida... E como esquecer também daqueles/as homens, mulheres, religiosos/as e padres que nos acompanharam no processo de educação na fé? Lembra-te de Raquel, de Carmem, de Alessandra, de Joaquim, de D. Vinicius, de Fabiane, de Edinho, de Wandinho, de Renato, de Hellen, de Karlos, de Alessandro, de Rezende, de Pe Gilmar, de Hilário??? Ahh que saudade deles/as...
- Lembro sim, mas essas foram algumas das milhares de mãos que fizeram a história da Pastoral da Juventude. Outras mãos que também fizeram a história da PJ foram nossos/as amigos/as e companheiros/as de Caminhada Pastoral... Como não lembrar de Rodrigo, Elis, Roberta, Ângela, Carlinhos, Adriano, Hildete, Thiesco, Jon, Walkes, Thiago, Renatinha, Edney, Felipe, Claudinei, Sandra, Marcelo, Jhonson, Álvaro, Fábio, Jaiane, Alex, Vanessa, Pedro, Pâmela, Ciana, Daniel, Daiane, Silvana, Susana, Rosana... E muitos são os/as companheiros/as de caminhada e de vida...
E ficamos ali um do lado do outro revisitando lugares, re-vivendo momentos, vendo e ouvindo pessoas, passeando pelos nossos caminhos e por nossas Memórias. Depois de muito tempo:
- Sabe de uma coisa meu querido irmão?
Olhei pra Paula na espera de suas palavras e ela me disse:
- Essa história, marcada pelo desejo das Bem-Aventuranças (MT 5, 1-12), tecida pela juventude no seguimento coerente a Jesus, seguirá por muito tempo ainda, dando passos rumo à Civilização do Amor!
Na felicidade do encontro, da amizade, da vida partilhada, do fazer memória e do celebrar a opção pela juventude nos despedimos em um longo abraço, dizendo um até logo, pois amigos/as nunca se separam.
Amém!

Por Paula Cervelin Grassi, 21 anos – Regional Sul III e Luis Duarte Vieira, 18 anos – Regional Centro-Oeste Ambos grandes amigos e os/as mais jovens membros da Coordenação Nacional da PJ em 2010.


Carta à minha Paróquia, minha Diocese e à PJ da Diocese de Jataí




Rio Verde/GO, 23 de janeiro de 2012
Ano de Nazaré, Ano do Bem-Viver!

            Jesus foi à cidade de Nazaré!
Lc 4, 16a.

À Comunidade de Comunidades – Paróquia São Francisco de Assis
À Igreja Particular do Divino Espírito Santo de Jataí
À Pastoral da Juventude da Diocese de Jataí

Queridos/as,
Saudações no Divino que habita na Juventude!

O meu caminho de vida, a vivência e atuação pastoral na Comunidade São Francisco de Assis e na Diocese de Jataí, a participação, atuação e serviço aos Grupos de Jovens e à Juventude, a atuação, as vivências e o serviço na Pastoral da Juventude de modo especial na PJ da Diocese de Jataí, as inúmeras atividades, formações, vivências, celebrações e reuniões na Casa da Juventude Pe. Burnier e as atividades e vivências com a Companhia de Jesus, fizeram-me assumir o projeto do Reino, no seguimento de Jesus, para minha vida. É por causa do Reino que quero gastar minha vida no seguimento coerente a Jesus de Nazaré.
Optando pelo seguimento coerente a Jesus, o caminho e as vivências foram me provocando a viver no compromisso mais radical no serviço aos/às pobres, aos/às jovens, na garantia de Vida plena e feliz para todos/as, como sinal do Reino que na minha vida se traduz em oferenda. É nesse desejo de fazer de minha vida uma oferenda que a partir de fevereiro deixo o convívio cotidiano de meu lar, de minha comunidade, de minha família e de meus amigos/as para entrar na Comunidade Vocacional dos Jesuítas. É meu desejo fazer da vida uma oferenda através da Vida Religiosa na Companhia de Jesus sob o carisma missionário de Inácio, à luz dos exercícios espirituais, na contemplação e ação, e em tudo amando e servindo.
Escrevo estas palavras partilhando essa opção, pois cada um/a de vocês que fazem a Paróquia São Francisco de Assis, a Diocese de Jataí e a Pastoral da Juventude dessa Igreja Particular são parte de minha vida, e como tal, parte dessa opção que agora assumo para a vida.
Agradeço imensamente a cada um/a de vocês que ajudaram-me a trilhar esse caminho de serviço ao Reino, ao Povo de Deus e à Juventude, tanto em minha Paróquia, como na PJ e como na Diocese. Guardarei para sempre o que vivi com cada um/a de vocês neste chão sagrado de nossa Diocese. Durante todo esse tempo senti o apoio de vocês e quero seguir tendo ele, que é tão importante. Igualmente reafirmo meu compromisso com minha Paróquia, com a PJ e com a Diocese colocando-me sempre à disposição para contribuir no que for preciso, tendo em vista o anúncio da Boa-Nova e a construção do Reino.
Agora ao embarcar nessa aventura como Peregrino, tendo apenas o Senhor como guia, ouso deixar-lhes algumas palavras:
À minha Comunidade e Paróquia, São Francisco de Assis. Que a memória da vida e do testemunho de Francisco de Assis provoque sempre mais uma ação evangelizadora marcada pela coerência e radicalidade do seguimento à Jesus. Sejam verdadeiramente uma Comunidade de Comunidades que vive na radicalidade o Evangelho e segue construindo o Reino de Deus.
À minha Diocese, Diocese do Divino Espírito Santo de Jataí. Fica a prece para que o Espírito sopre sempre ventos de ousadia, esperança e compromisso com o Reino. Desejo imensamente que a Diocese siga sendo testemunha fiel da Testemunha Fiel e siga espalhando nessas terras do sudoeste goiano a Boa-Nova de Cristo. Desejo igualmente que o anúncio da Boa-Nova nessas terras siga sendo feito também no testemunho de tantos/as que assumem e vivem o Evangelho em suas vidas e em ações que constroem o Reino no hoje e no agora. Peço também, numa súplica sincera, que a Diocese, nunca descuide da juventude e que sempre renove e reafirme a opção preferencial pelos jovens amando-os até o fim, a exemplo do Jovem de Nazaré. Dom Majella, nosso bispo, convocou toda a Igreja Diocesana a viver o Ano da Palavra, neste ano em que a PJ na América Latina vive o ano de Nazaré. Nazaré foi também para Jesus um tempo fiel de escuta, oração e meditação da Palavra. Esse tempo de Nazaré na vida de Jesus e na escuta da vontade do Pai fez com que, posteriormente na Sinagoga, Jesusassumisse publicamente seu projeto de vida: Vida plena para todos/as. Que o Ano da Palavra anime a vida e missão da Igreja em nossa Diocese tendo em vista a concretização do sonho de Deus: vida plena para todos/as, seu Reino.
À Pastoral da Juventude da Diocese de Jataí há muita coisa que gostaria de dizer. Fazendo o esforço de dizer tudo em uma síntese pequena gostaria de deixar uns conselhos simples de quem ama muito essa pastoral, de quem foi parte dessa história e de quem sempre terá a PJ no coração. Não descuidem nunca dos grupos de jovens. Não descuidem da história e da identidade da PJ. Não deixem de defender a vida da juventude com ousadia. Não deixem de realizar atividades de formação. Vivam intensamente o ano da Palavra, o ano de Nazaré e o projeto de Revitalização da PJ. Nunca percam o protagonismo juvenil e nunca deixem de viver a juventude como realidade teológica. Sejam sempre coerentes com o Evangelho e tenham sempre a Palavra de Deus como guia. Nunca deixem de seguir com alegria, ousadia e esperança na construção do Reino com os/as jovens.
Encerrando estas palavras, gostaria de dar um abraço apertado em cada um e cada uma vocês que foram e são parte de meu caminho e de minhas opções. Quero dar-lhes um abraço de gratidão e amizade.
Que o Jovem de Nazaré, que se fez Caminho sem deixar de ser Horizonte, esteja sempre com a Paróquia São Francisco de Assis, com a Pastoral da Juventude e com a Diocese de Jataí. Que o Jovem de Nazaré igualmente guie e guarde cada um/a de vocês em seu abraço!

Sigamos juntos/as na teimosia de construir o Reino de Deus!

Abraços Fraternos,

Luis Duarte Vieira

Canção da viva decisão



Por detrás dos ecos e feridas
O sorriso de um sonho
Fraterna mansidão,
Suave estado de espírito.

Assim a vida reporta
A novos horizontes
Talvez não antes navegados,
Porém, sonhados, tecidos
Na paixão pelo Reino
Na paixão pelo jeito jovem.

O sorriso conforta,
Os lábios proclamam
Incessantes sonhos de vida
E a ferida se fecha
A passo que a dor adormece
É sempre vida e sempre tanto
Inefável amor e encanto.

Em cada despedida
Novas amizades, sinceras
Partilhas de verdade;
É chegança, é liberdade
Que se tece nas manhãs
Em busca de esperança.

O caminho trilhado é longo
Duro, difícil, mas prazeroso
Porque só é contente quem
Sabe do porquê de caminhar,
Pois já encontrou refúgio
No jeito novo de sonhar.

Na estrada ficam a beleza das flores
Colhidas no caminho, uma a uma
Aromas doces, suaves, espinhentas
Ou imersas nas estradas da vida.

Sob os pés vai a certeza
Do momento difícil de partir
Um adeus sob a confiança
De um mundo novo a construir.

No coração segue a esperança
E o amor que nunca cessa
Tantos nomes na memória,
Na história que seguirá
Sendo construída passo a passo.

Com a beleza e a certeza
De que as mãos se unirão
Num suave e doce canto.

Na doce incerteza das manhãs
Ficam os amanhãs, cheios de vida
Cheios de alegria, de amor
Olhar ligeiro, estradeiro de
Quem aceita a missão
De sonhar, fazer, ousar, construir
A Civilização do Amor!


* Presente do amigo Uilian Dalpiaz para mim em 22/10/2011.